Erros administrativos: como lidar com a responsabilidade jurídica em relação ao prontuário de pacientes

Médico laudo

Na rotina agitada de clínicas, hospitais e consultórios, a atenção aos detalhes é crucial. Nesse contexto, a gestão dos prontuários de pacientes se destaca como uma atividade de extrema importância, não apenas para a organização interna, mas também para a segurança do paciente e a conformidade legal da instituição. Entretanto, mesmo com os melhores sistemas e protocolos, erros administrativos podem ocorrer, gerando sérias implicações jurídicas.

Você, gestor de uma instituição de saúde, profissional da área médica ou advogado especializado, já se perguntou sobre os riscos e responsabilidades decorrentes de erros administrativos em prontuários? É fundamental compreender que, mesmo falhas aparentemente simples, como um dado incorreto ou uma informação faltante, podem desencadear processos judiciais, danos à imagem da instituição e, o mais grave, prejuízos à saúde do paciente.

Pensando nisso, elaboramos este artigo completo e detalhado para te guiar no complexo tema da responsabilidade jurídica por erros administrativos em prontuários de pacientes. Para te ajudar a proteger sua instituição e seus pacientes, vamos explorar os tipos mais comuns de erros, as bases legais da responsabilidade, as consequências jurídicas e, o mais importante, as medidas preventivas e corretivas para evitar esses problemas. Continue a leitura e fique por dentro de tudo!

O Que São Erros Administrativos em Prontuários? Entendendo o Conceito

Primeiramente, é importante definir o que configuram “erros administrativos” em prontuários de pacientes. De forma geral, podemos considerar como erros administrativos todas as falhas ou omissões no registro, na organização, no armazenamento e no acesso às informações contidas nos prontuários, que não estão diretamente relacionadas ao diagnóstico ou tratamento médico em si, mas que impactam a gestão e a integridade desses documentos.

Para ilustrar melhor, listamos alguns exemplos comuns de erros administrativos em prontuários:

  • Dados Cadastrais Incorretos ou Incompletos: Nome do paciente errado, data de nascimento equivocada, endereço desatualizado, número de telefone incorreto, ausência de informações sobre o responsável legal (em caso de menores ou pacientes incapazes).
  • Falhas na Identificação do Paciente: Prontuários com identificação ilegível, etiquetas trocadas, informações insuficientes para identificar o paciente de forma unívoca, levando à possibilidade de confusão de prontuários entre pacientes homônimos ou com nomes semelhantes.
  • Registros Ilegíveis ou Incompreensíveis: Anotações manuscritas ilegíveis, abreviações não padronizadas, falta de clareza na linguagem utilizada, dificultando a compreensão das informações por outros profissionais da saúde que necessitem consultar o prontuário.
  • Omissão de Informações Relevantes: Ausência de registros de datas e horários de atendimento, falta de assinatura e identificação do profissional responsável pelos registros, omissão de informações sobre alergias, medicações em uso, histórico de doenças relevantes, resultados de exames, ou outras informações clínicas importantes para o acompanhamento do paciente.
  • Problemas de Organização e Estrutura: Prontuários desorganizados, com folhas soltas, em ordem cronológica incorreta, dificultando a localização de informações e a análise do histórico do paciente.
  • Falhas no Armazenamento e Conservação: Prontuários físicos armazenados em locais inadequados, sujeitos a umidade, calor, deterioração, extravio ou acesso indevido. Prontuários eletrônicos com problemas de segurança, falta de backups, falhas no sistema que comprometem a integridade e a disponibilidade dos dados.
  • Problemas de Acesso e Confidencialidade: Acesso indevido de pessoas não autorizadas aos prontuários, falta de controle de acesso aos sistemas eletrônicos, compartilhamento inadequado de senhas, ausência de políticas claras sobre confidencialidade e proteção de dados.

A Base Legal da Responsabilidade Jurídica: O Que Diz a Lei?

A responsabilidade jurídica por erros administrativos em prontuários de pacientes encontra respaldo em diversas normas legais, tanto no âmbito civil quanto no âmbito ético-profissional. Entre as principais bases legais, podemos destacar:

  • Código Civil: Estabelece a responsabilidade civil por danos causados a terceiros, incluindo danos decorrentes de negligência, imprudência ou imperícia. Erros administrativos em prontuários podem configurar negligência ou imperícia na gestão da documentação do paciente, gerando responsabilidade civil para a instituição e os profissionais envolvidos.
  • Código de Defesa do Consumidor (CDC): Aplica-se à relação entre pacientes e instituições de saúde, considerando o paciente como consumidor de serviços de saúde. O CDC prevê a responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços por danos causados ao consumidor, independentemente de culpa. Ou seja, mesmo que não haja intenção de causar dano, a instituição pode ser responsabilizada por falhas na prestação do serviço, incluindo erros em prontuários.
  • Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): Em casos de erros administrativos praticados por funcionários da instituição, a CLT pode ser aplicada para responsabilizar o empregador por atos de seus empregados no exercício do trabalho.
  • Leis e Normas Específicas da Área da Saúde: Além das leis gerais, existem diversas normas específicas que regulamentam a gestão de prontuários e a responsabilidade dos profissionais e instituições de saúde, como a Resolução CFM nº 2.054/2023 do Conselho Federal de Medicina, que define o prontuário eletrônico do paciente (PEP), e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece regras para o tratamento de dados pessoais, incluindo dados de saúde.

Consequências Jurídicas dos Erros Administrativos: O Que Pode Acontecer?

As consequências jurídicas para instituições e profissionais de saúde que cometem erros administrativos em prontuários podem ser diversas e graves, variando de acordo com a natureza e a extensão do erro, e os danos causados ao paciente. Entre as principais consequências, podemos citar:

  • Ações Judiciais de Indenização por Danos Morais e Materiais: Pacientes que se sintam prejudicados por erros em seus prontuários podem ingressar com ações judiciais buscando indenização por danos morais (sofrimento, angústia, abalo psicológico) e materiais (gastos com retratamento, perda de oportunidades, etc.).
  • Processos Ético-Profissionais: Conselhos de classe (CRM, COFEN, etc.) podem instaurar processos ético-profissionais para apurar a conduta de profissionais de saúde que cometeram erros em prontuários, podendo aplicar sanções como advertência, suspensão ou até mesmo cassação do registro profissional.
  • Responsabilidade Criminal: Em casos mais graves, como a falsificação de prontuários ou a omissão de informações que causem dano à saúde do paciente, pode haver responsabilização criminal dos envolvidos, como por exemplo, por crime de falsidade ideológica ou lesão corporal culposa.
  • Danos à Reputação e Imagem da Instituição: Erros administrativos em prontuários, especialmente se divulgados publicamente, podem gerar danos à reputação e à imagem da instituição de saúde, afetando a confiança dos pacientes e a credibilidade da organização.

Como Lidar com a Responsabilidade Jurídica? Medidas Essenciais

Diante do cenário de responsabilidade jurídica por erros administrativos em prontuários, é fundamental que instituições e profissionais de saúde adotem medidas preventivas e corretivas para minimizar os riscos e lidar adequadamente com eventuais problemas. Entre as principais medidas, destacamos:

  • Implementar Protocolos e Rotinas Padronizadas: Criar e implementar protocolos claros e detalhados para todas as etapas da gestão de prontuários, desde a abertura até o arquivamento, abrangendo o registro de informações, a organização, o armazenamento, o acesso e a confidencialidade dos dados.
  • Investir em Treinamento e Capacitação da Equipe: Capacitar todos os profissionais envolvidos na gestão de prontuários (médicos, enfermeiros, técnicos, recepcionistas, etc.) sobre os protocolos, as normas legais e éticas, a importância da precisão e da confidencialidade dos registros, e as consequências dos erros administrativos.
  • Utilizar Sistemas Eletrônicos de Prontuários (PEP): A adoção de sistemas eletrônicos de prontuários, quando bem implementados e utilizados, pode reduzir significativamente os erros administrativos, automatizando tarefas, padronizando registros, facilitando o acesso e o compartilhamento de informações entre a equipe, e reforçando a segurança dos dados.
  • Realizar Auditorias e Monitoramento Contínuo: Implementar rotinas de auditoria e monitoramento periódico dos prontuários, tanto físicos quanto eletrônicos, para identificar falhas, inconsistências e áreas de melhoria nos processos de gestão.
  • Adotar Políticas de Segurança da Informação e Proteção de Dados: Implementar políticas robustas de segurança da informação e proteção de dados, em conformidade com a LGPD, para garantir a confidencialidade, a integridade e a disponibilidade dos dados dos pacientes, restringindo o acesso a pessoas autorizadas, utilizando senhas fortes, criptografia de dados, backups regulares e outras medidas de segurança.
  • Manter um Canal de Comunicação Aberto com os Pacientes: Estabelecer canais de comunicação transparentes e eficientes com os pacientes, informando-os sobre seus direitos em relação aos prontuários, esclarecendo dúvidas, acolhendo reclamações e buscando soluções amigáveis para eventuais problemas.
  • Buscar Assessoria Jurídica Especializada: Contar com a assessoria jurídica de um escritório especializado em direito médico é fundamental para orientar a instituição na implementação de medidas preventivas, revisar protocolos e rotinas, capacitar a equipe, lidar com eventuais processos judiciais ou ético-profissionais, e garantir a conformidade legal da instituição.

Prevenir é Sempre o Melhor Remédio

Em conclusão, os erros administrativos em prontuários de pacientes representam um risco significativo para instituições e profissionais de saúde, podendo gerar sérias consequências jurídicas, éticas e financeiras. Portanto, a prevenção é sempre o melhor caminho.

Ao investir em protocolos eficientes, treinamento da equipe, tecnologia adequada e assessoria jurídica especializada, as instituições de saúde podem reduzir drasticamente os riscos de erros administrativos, proteger seus pacientes, evitar problemas legais e fortalecer sua reputação e credibilidade no mercado.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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