Sou home office, mas a empresa quer que eu volte ao presencial. Posso recusar?

Sou home office, mas a empresa quer que eu volte ao presencial. Posso recusar?

Nos últimos anos, o trabalho remoto se tornou uma realidade para muitos brasileiros. Com a pandemia, empresas precisaram se adaptar rapidamente ao modelo home office, e diversos profissionais perceberam as vantagens dessa modalidade — como mais tempo com a família, economia com transporte e maior produtividade.

No entanto, com o retorno à normalidade, algumas empresas têm exigido que seus colaboradores voltem ao trabalho presencial. Diante disso, surge uma dúvida comum: posso recusar voltar ao presencial, mesmo estando trabalhando remotamente há anos?

Neste artigo, vamos abordar essa questão sob a ótica jurídica e trabalhista, explicando quais são os seus direitos, quando é possível se recusar a retornar ao escritório e o que fazer se a empresa insistir nessa mudança.

A empresa pode me obrigar a voltar ao presencial?

A resposta inicial é: depende do contrato de trabalho. Se o seu contrato original sempre foi para o modelo presencial e o home office foi apenas uma adaptação temporária, então, sim — a empresa pode exigir seu retorno ao ambiente físico, desde que o faça com aviso prévio e dentro do que a legislação permite.

Por outro lado, se você foi contratado especificamente para trabalhar em home office, essa mudança para o presencial configura uma alteração contratual e, portanto, precisa do seu consentimento.

Segundo o artigo 468 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), qualquer alteração no contrato de trabalho que implique prejuízo direto ou indireto ao empregado não pode ser feita sem a concordância dele.

E se o modelo remoto já durava há muito tempo?

Um ponto importante é o chamado direito adquirido por conta da prática reiterada. Se você está em home office há muito tempo, e isso se tornou uma prática constante e aceita pela empresa, é possível discutir, judicialmente, a ideia de que esse modelo se incorporou ao contrato de trabalho.

Contudo, esse tipo de argumento é mais complexo e exige análise individual, pois depende de fatores como:

  • Se houve alguma comunicação oficial da empresa estabelecendo o modelo remoto;
  • Se essa condição foi prevista em aditivo contratual ou em acordos internos;
  • Se houve investimentos por parte do colaborador para se adaptar ao home office (como mobiliário ou internet, por exemplo).

Por isso, antes de tomar qualquer atitude, o ideal é buscar orientação jurídica.

Quais são os meus direitos em caso de mudança repentina?

Se a empresa decidir encerrar o home office e exigir o retorno presencial, ela deve seguir alguns critérios legais:

  1. Comunicação com antecedência razoável: Para que o trabalhador possa se organizar, especialmente se tiver mudado de cidade, vendido o carro ou alterado sua rotina familiar;
  2. Compensação de custos: Se o retorno implicar em aumento considerável de despesas, o colaborador pode pleitear uma compensação financeira, dependendo do caso;
  3. Condições de saúde ou familiares: Em casos específicos, como trabalhadores com doenças crônicas, laudos médicos ou dependentes sob cuidado especial, o retorno pode ser discutido judicialmente.

Portanto, a empresa não pode simplesmente exigir o retorno imediato sem considerar as circunstâncias de cada colaborador.

O que fazer se não quiser voltar?

Se você foi comunicado sobre o retorno ao presencial e não deseja ou não pode retornar, o primeiro passo é tentar o diálogo com o setor de Recursos Humanos. Explique sua situação, apresente argumentos concretos, como:

  • Tempo de adaptação ao home office;
  • Resultados positivos no desempenho;
  • Questões familiares ou logísticas.

Se ainda assim a empresa insistir, é fundamental buscar apoio de um advogado trabalhista, que poderá analisar seu contrato, os documentos trocados com a empresa e definir a melhor estratégia — seja para manter o home office ou discutir uma rescisão indireta, caso haja abusos.

A recusa pode causar demissão por justa causa?

Essa é uma dúvida muito comum e que preocupa muitos profissionais. Em regra, a recusa injustificada em cumprir ordens diretas da empresa pode sim ser entendida como ato de insubordinação, o que abre espaço para demissão por justa causa.

No entanto, se você tiver motivos legítimos para recusar o retorno — como cláusulas contratuais que preveem o trabalho remoto, condições médicas, questões familiares graves ou até mesmo vícios na forma como a empresa está impondo a mudança — a justa causa pode ser considerada abusiva e passível de reversão na Justiça do Trabalho.

Por isso, é fundamental não agir por impulso. Converse com um advogado e entenda se, no seu caso, há base legal para manter-se no home office ou se é melhor buscar um acordo com a empresa.

O tema do retorno ao presencial após anos de home office exige atenção e cuidado. Embora as empresas tenham certa liberdade para organizar sua estrutura de trabalho, elas também devem respeitar os direitos dos colaboradores, especialmente quando há mudanças bruscas que impactam diretamente a vida pessoal e profissional dos trabalhadores.

Se você está passando por esse tipo de situação, não enfrente isso sozinho. O apoio de um advogado pode evitar prejuízos, garantir seus direitos e até abrir caminho para uma negociação mais equilibrada com a empresa.

Quer saber como agir no seu caso? Entre em contato com nosso escritório e fale com um especialista. Estamos prontos para analisar seu contrato e indicar o melhor caminho.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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