Como agir quando o outro genitor atrasa ou não comparece às visitas?

Pai fazendo visita para filho, simbolizando o suporte jurídico para questões de descumprimento de visitas dos filhos.

A convivência familiar é um direito fundamental da criança e do adolescente, essencial para o seu desenvolvimento saudável e equilibrado. No entanto, quando um dos genitores começa a atrasar ou, pior, a não comparecer às visitas regulamentadas, a situação pode gerar um enorme estresse, frustração e, acima de tudo, um impacto emocional negativo nos filhos. Se você está passando por isso, saiba que não está sozinho(a) e que existem passos concretos a serem tomados.

Este artigo é um guia completo, pensado para você, que busca não apenas entender seus direitos, mas também agir da maneira mais estratégica e sensível possível, sempre priorizando o bem-estar do seu filho.

O Primeiro Passo: Acalme-se e Analise a Situação

Antes de tomar qualquer medida mais drástica, é fundamental respirar fundo e analisar o cenário. Atrasos e faltas podem acontecer por motivos distintos. Foi um imprevisto pontual ou tornou-se um padrão de comportamento? O diálogo ainda é uma via possível?

Imprevistos acontecem, e é importante ter alguma flexibilidade. Um engarrafamento inesperado ou um compromisso de trabalho inadiável podem, de fato, ocorrer. Nesses casos, uma comunicação clara e respeitosa por parte do outro genitor é o mínimo que se espera.

No entanto, quando os atrasos se tornam constantes e as faltas, frequentes e sem justificativas plausíveis, o sinal de alerta deve ser ligado. Esse comportamento desrespeita não apenas o acordo firmado, mas, principalmente, o tempo e os sentimentos da criança, que aguarda ansiosamente por aquele momento.

A Comunicação como Ferramenta Inicial: Tentando a Via Amigável

Por mais desgastada que a relação possa estar, a primeira tentativa de resolução deve ser, sempre que possível, o diálogo. Uma conversa franca e objetiva pode, por vezes, solucionar o problema sem a necessidade de intervenção judicial.

Dica prática: Opte por uma comunicação registrada. Conversas por WhatsApp ou e-mail são excelentes ferramentas, pois servem como prova de que você tentou resolver a questão de forma amigável e demonstram seu interesse em manter uma relação parental saudável.

Ao conversar, seja claro(a) sobre como os atrasos e as faltas estão afetando a rotina e, principalmente, o emocional da criança. Use frases como: “Gostaria de conversar sobre os horários das visitas. A instabilidade tem deixado o(a) [nome da criança] ansioso(a) e confuso(a). Podemos encontrar uma forma de garantir mais previsibilidade?”.

Documente Absolutamente Tudo: A Importância do Registro

Se a conversa amigável não surtir efeito, é hora de passar para a fase de documentação rigorosa. Este é, talvez, um dos passos mais cruciais para proteger os direitos do seu filho e os seus no futuro. Manter um registro detalhado de cada descumprimento será fundamental caso seja necessário tomar medidas legais.

O que você deve registrar?

  • Datas e horários: Anote o dia e a hora exatos em que o atraso ou a falta ocorreram.
  • Duração do atraso: Se houve atraso, registre por quanto tempo.
  • Comunicação: Guarde prints de conversas, e-mails e registre as tentativas de contato telefônico. Anote se houve alguma justificativa e qual foi.
  • Testemunhas: Se outras pessoas presenciaram a situação (um familiar, um amigo), anote quem estava presente.
  • Impacto na criança: Descreva brevemente como a criança reagiu. Ficou triste, chorou, demonstrou ansiedade? Isso é importante para demonstrar o dano emocional.

Manter essa “agenda de descumprimentos” pode parecer trabalhoso, mas é a sua principal ferramenta para comprovar um padrão de comportamento negligente.

Medidas Formais: A Notificação Extrajudicial

Quando o diálogo se mostra ineficaz e o padrão de descumprimento persiste, um passo intermediário, antes de recorrer diretamente à Justiça, é a notificação extrajudicial.

Trata-se de um documento formal, enviado por um advogado, que tem como objetivo comunicar oficialmente o outro genitor sobre o seu descontentamento com o descumprimento do acordo de visitas e adverti-lo sobre as possíveis consequências legais caso o comportamento não mude.

A notificação extrajudicial demonstra que você está levando a situação a sério e que não hesitará em buscar as vias judiciais se necessário. Muitas vezes, este documento é o suficiente para que o outro genitor reavalie sua conduta e passe a cumprir com suas obrigações.

Quando a Justiça é o Único Caminho: A Execução do Acordo

Se nenhuma das etapas anteriores funcionar, o próximo passo é buscar o Poder Judiciário. Se já existe um acordo de visitas homologado por um juiz, você deverá ingressar com uma Ação de Cumprimento de Sentença.

Nesta ação, o seu advogado irá apresentar todas as provas que você documentou (as conversas, a agenda de descumprimentos, a notificação extrajudicial) e solicitar ao juiz que tome medidas para forçar o cumprimento do acordo.

As consequências para o genitor que descumpre o regime de visitas podem incluir:

  • Advertência formal: O juiz pode advertir o genitor sobre seu comportamento.
  • Aplicação de multa (astreintes): Esta é uma das medidas mais eficazes. O juiz pode fixar uma multa em dinheiro para cada novo atraso ou falta. O valor é revertido em benefício da criança e serve como um forte incentivo para o cumprimento do acordo.
  • Revisão do regime de convivência: Em casos mais graves e recorrentes, o juiz pode entender que a atitude do genitor é prejudicial à criança e, com base nisso, alterar o regime de visitas, podendo até mesmo determinar que as visitas sejam supervisionadas.
  • Caracterização de Alienação Parental: Embora a alienação parental seja mais comumente associada ao genitor que detém a guarda e impede as visitas, o abandono e a quebra de rotina constantes por parte do genitor visitante também podem ser considerados uma forma de violência psicológica. Se comprovado, pode levar a consequências mais sérias, como a inversão da guarda.

Prioridade Máxima: Protegendo o Emocional do Seu Filho

Em meio a todo esse processo, é fácil se perder na burocracia e no estresse. Contudo, a prioridade absoluta deve ser sempre a saúde emocional do seu filho.

Como conversar com a criança sobre a ausência do outro genitor?

  • Seja honesto(a), mas com linguagem apropriada para a idade: Não invente desculpas mirabolantes para a ausência. Diga, de forma simples, que o outro genitor não pôde vir, sem transferir a culpa para a criança.
  • Valide os sentimentos dele(a): Deixe a criança expressar sua tristeza, raiva ou frustração. Diga que você entende como ela se sente e que é normal ficar chateado(a).
  • Nunca, jamais, fale mal do outro genitor para a criança: Por mais que você esteja magoado(a), usar a criança como confidente ou denegrir a imagem do outro genitor é extremamente prejudicial e pode, inclusive, configurar alienação parental da sua parte.
  • Reforce o seu amor e a sua presença: Mostre à criança que, independentemente do que aconteça, ela é amada e pode contar com você incondicionalmente.

Agir com Estratégia e Sensibilidade é a Chave

Lidar com o descumprimento do regime de visitas é uma jornada desgastante, mas é crucial agir de forma estratégica e assertiva. Comece pelo diálogo, documente cada passo, formalize a reclamação se necessário e, por fim, não hesite em buscar a via judicial para garantir o direito do seu filho à convivência familiar e, acima de tudo, a sua estabilidade emocional.

Lembre-se: você não precisa passar por isso sozinho(a). O acompanhamento de um advogado especialista em Direito de Família é fundamental para orientá-lo(a) sobre as melhores estratégias e garantir que todos os seus direitos e, principalmente, os do seu filho, sejam respeitados.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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