Demissão durante o período de experiência: quais são os direitos do trabalhador?

Advogado trabalhista com uma caneta na mão, analisando os direitos de uma demissão em contrato de experiência sobre uma mesa de escritório com um notebook.

A contratação para um novo emprego é um momento de grande expectativa. No entanto, o período de experiência, que deveria servir como uma fase de adaptação, pode se transformar em uma fonte de enorme ansiedade e incerteza, especialmente diante de uma demissão inesperada. Se você foi dispensado antes do fim do contrato de experiência, é natural que se sinta perdido e questione: “E agora? Quais são os meus direitos?”.

Muitos trabalhadores acreditam, equivocadamente, que durante essa fase inicial não possuem garantias. Pelo contrário, a legislação trabalhista brasileira estabelece uma série de proteções para assegurar que você não saia desamparado.

Este guia completo foi elaborado por nossa equipe de advogados especialistas para esclarecer, de forma definitiva, todos os seus direitos trabalhistas em caso de demissão durante o período de experiência. Continue a leitura para entender exatamente o que você deve receber e como agir para garantir que a lei seja cumprida.

O Que é o Contrato de Experiência e Qual Sua Finalidade?

Antes de mergulharmos nos direitos rescisórios, é fundamental compreender a natureza do contrato de experiência. Previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ele é, na prática, um contrato de trabalho com prazo determinado, cuja finalidade é permitir uma avaliação mútua: o empregador avalia se o novo colaborador possui as aptidões necessárias para a função, enquanto o empregado verifica se as condições de trabalho e a cultura da empresa atendem às suas expectativas.

A duração máxima legal para o contrato de experiência é de 90 dias. Ele pode ser firmado por um período menor e prorrogado uma única vez, desde que a soma dos dois períodos não ultrapasse esses 90 dias. Por exemplo, um contrato inicial de 45 dias pode ser prorrogado por mais 45 dias.

É crucial entender que, embora seja um período de avaliação, ele gera um vínculo empregatício formal, com anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e, consequentemente, garante direitos específicos.

Fui Demitido no Período de Experiência: Quais São Meus Direitos?

A resposta para essa pergunta depende fundamentalmente de quem tomou a iniciativa de encerrar o contrato e qual foi o motivo. A seguir, detalhamos cada cenário possível para que você possa identificar exatamente onde se encaixa.

1. Rescisão Sem Justa Causa por Iniciativa do Empregador

Este é o cenário mais comum: a empresa decide encerrar o contrato antes do prazo final, sem que o trabalhador tenha cometido uma falta grave. Se essa é a sua situação, você tem direito a receber:

  • Saldo de Salário: Pagamento referente aos dias efetivamente trabalhados no mês da rescisão.
  • 13º Salário Proporcional: O valor correspondente aos meses trabalhados durante o contrato.
  • Férias Proporcionais + 1/3 Constitucional: O pagamento proporcional ao período trabalhado, acrescido do terço constitucional.
  • Saque do FGTS: Você terá o direito de sacar o valor total depositado pela empresa em sua conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.
  • Multa de 40% sobre o FGTS: A empresa é obrigada a pagar uma multa de 40% sobre todos os valores depositados em sua conta do FGTS durante a vigência do contrato.
  • Indenização por Quebra de Contrato: Este é um ponto crucial. O artigo 479 da CLT estabelece que o empregador que rescinde antecipadamente um contrato por prazo determinado deve pagar ao empregado uma indenização correspondente à metade da remuneração a que ele teria direito até o final do contrato. Por exemplo, se você foi demitido na metade de um contrato de 90 dias, deverá receber uma indenização equivalente a 50% do salário dos 45 dias restantes.

Atenção ao contrato! Alguns contratos de experiência podem conter a chamada “cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão” (art. 481 da CLT). Se essa cláusula existir, a rescisão segue as regras de um contrato por prazo indeterminado, o que significa que, em vez da indenização do art. 479, a empresa deve conceder o aviso prévio ou indenizá-lo.

2. Rescisão por Justa Causa

A demissão por justa causa também pode ocorrer durante o contrato de experiência. Ela acontece quando o empregado comete uma falta grave prevista no artigo 482 da CLT (como improbidade, indisciplina, abandono de emprego, etc.). Neste caso, os direitos são drasticamente reduzidos:

  • Saldo de Salário: Pagamento pelos dias trabalhados no mês.
  • FGTS Depositado: Apenas o valor que já foi depositado, mas sem direito ao saque imediato e sem a multa de 40%.

Portanto, em caso de justa causa, o trabalhador perde o direito às férias proporcionais, ao 13º salário e a qualquer tipo de indenização.

3. Pedido de Demissão pelo Trabalhador

E se a iniciativa de sair partir de você? Caso o trabalhador decida pedir demissão antes do fim do período de experiência, seus direitos são:

  • Saldo de Salário: Pagamento pelos dias efetivamente trabalhados.
  • 13º Salário Proporcional: Valor correspondente aos meses de contrato.
  • Férias Proporcionais + 1/3 Constitucional: Pagamento proporcional ao período trabalhado.

Neste cenário, o trabalhador não tem direito ao saque do FGTS, à multa de 40% ou ao seguro-desemprego. Além disso, dependendo do que estiver previsto em contrato, a empresa pode ter o direito de exigir uma indenização sua (prevista no art. 480 da CLT) pelos prejuízos que a sua saída antecipada causou, limitada à metade do valor que você receberia até o fim do contrato.

Situações Especiais que Exigem Atenção Redobrada

Existem circunstâncias que garantem direitos adicionais ao trabalhador, mesmo durante o período de experiência. É fundamental estar ciente delas, pois muitos empregadores as ignoram.

Estabilidade Provisória: Gestantes e Acidentados

A estabilidade provisória no emprego é um direito que se sobrepõe ao prazo do contrato de experiência. Isso significa que:

  • Gestantes: A trabalhadora gestante tem direito à estabilidade desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Ela não pode ser demitida, mesmo no contrato de experiência, a não ser por justa causa.
  • Acidente de Trabalho: O empregado que sofre um acidente de trabalho e precisa se afastar por mais de 15 dias, recebendo auxílio-doença acidentário, tem direito à estabilidade por 12 meses após a alta médica.

Se a demissão ocorrer em uma dessas situações, ela é ilegal, e o trabalhador tem o direito de ser reintegrado ao cargo ou de receber uma indenização correspondente a todo o período de estabilidade.

E o Seguro-Desemprego? Tenho Direito?

Em regra geral, a rescisão antecipada do contrato de experiência não dá direito ao seguro-desemprego. Contudo, existe uma exceção: se o contrato contiver a já mencionada “cláusula assecuratória do direito recíproco de rescisão” e a demissão partir do empregador sem justa causa, o trabalhador poderá ter direito ao benefício, desde que preencha os demais requisitos legais (tempo de trabalho, não possuir outra fonte de renda, etc.).

Recebeu Seus Direitos Corretamente? A Importância da Assessoria Jurídica

A demissão, especialmente numa fase inicial, pode ser um processo confuso e desgastante. Os cálculos rescisórios envolvem diversas variáveis e, infelizmente, erros ou pagamentos incorretos são comuns. Além disso, uma dispensa aparentemente simples pode mascarar uma situação de estabilidade ou até mesmo um ato discriminatório.

Não aceite qualquer valor sem ter certeza de que está correto. Um advogado especializado em direito trabalhista é o profissional capacitado para analisar seu Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho (TRCT), conferir todos os cálculos, identificar direitos ocultos e garantir que a legislação seja integralmente respeitada.

Proteger seus direitos não é apenas uma questão financeira; é uma questão de dignidade. Uma orientação profissional pode fazer toda a diferença entre aceitar um prejuízo e lutar pelo que é seu por direito.

Ser demitido durante o período de experiência não significa que você está desprotegido. Como vimos, a lei prevê uma série de direitos para garantir uma compensação justa pela quebra de expectativa e pelo tempo de serviço dedicado. O passo mais importante é conhecer esses direitos e ter a segurança de que eles estão sendo cumpridos.

Não deixe que a dúvida e a incerteza controlem este momento. A ação correta, amparada por conhecimento técnico, é o que transforma um problema em uma solução.

Se você está passando por essa situação, entre em contato pelo WhatsApp e fale diretamente com um advogado especializado. O primeiro passo para resolver seu problema começa com uma orientação segura.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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