Motorista que derruba motociclista e foge: como funciona o processo e indenização

Cena de um acidente de trânsito com uma motocicleta caída no asfalto e, ao fundo, um carro se afastando em alta velocidade, ilustrando um motorista que atropela um motociclista e foge sem prestar socorro.

A cena é, infelizmente, muito comum nos centros urbanos: um instante de desatenção, um impacto súbito e um motociclista no chão. A situação, que já é grave por si só, torna-se ainda mais revoltante e complexa quando o motorista responsável pela colisão simplesmente acelera e foge do local, deixando a vítima para trás, muitas vezes ferida e sempre desamparada. Este ato não é apenas uma covardia, mas um crime com sérias consequências legais.

Para o motociclista que vivencia esse trauma, a mistura de dor, raiva e incerteza pode ser paralisante. “Quem vai pagar pelo conserto da minha moto? E minhas despesas médicas? Como encontrar o culpado?”. Essas são as primeiras de muitas perguntas que surgem. A boa notícia é que, mesmo diante de um cenário tão adverso, a lei oferece caminhos para buscar a justiça e a devida reparação.

Se você foi vítima dessa situação, este guia completo irá esclarecer o que fazer, como funciona o processo nas esferas criminal e cível e quais são os seus direitos a uma indenização justa.

O Choque Inicial: Os Primeiros e Mais Importantes Passos a Tomar

Logo após o acidente, e mesmo com a adrenalina e o nervosismo, algumas ações imediatas são cruciais e podem definir o sucesso de todo o processo futuro. A sua prioridade número um deve ser sempre a sua segurança e saúde.

  1. Garanta sua Segurança: Se possível, sinalize a área para evitar novos acidentes e, se estiver ferido, evite se mover bruscamente. Peça ajuda a quem estiver por perto.
  2. Acione Ajuda Médica e Policial: Ligue imediatamente para o SAMU (192) se houver ferimentos e para a Polícia Militar (190) para registrar a ocorrência. A presença policial no local é fundamental para a perícia inicial.
  3. Colete o Máximo de Provas: Este é um ponto-chave. Qualquer informação sobre o veículo que fugiu é valiosa. Tente memorizar e anotar:
    • Placa do veículo (mesmo que parcial);
    • Cor, marca e modelo do carro;
    • Qualquer detalhe distintivo, como um adesivo, um amassado pré-existente ou um rack no teto.
  4. Procure por Testemunhas: Converse com pessoas que presenciaram o acidente. Peça o nome e o número de telefone delas. O depoimento de testemunhas oculares tem um peso enorme no processo.
  5. Verifique por Câmeras: Olhe ao redor. Lojas, condomínios, prédios comerciais e até mesmo câmeras de segurança públicas (“olho vivo”) podem ter gravado o momento do acidente e a placa do veículo. Anote os endereços para solicitar as imagens posteriormente.

Agir com rapidez na coleta dessas informações é o que permitirá que o motorista fujão seja identificado e responsabilizado.

A Dupla Responsabilidade do Motorista que Foge: Esfera Criminal e Cível

Quando um motorista se envolve em um acidente e foge sem prestar socorro, ele não comete apenas uma infração de trânsito, mas também crimes previstos em lei. Por isso, ele responderá em duas frentes distintas: a criminal e a cível.

  • Na Esfera Criminal: A fuga do local do acidente para escapar da responsabilidade é tipificada como crime pelo Artigo 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Além disso, se houver vítima, a não prestação de socorro configura o crime de omissão de socorro, previsto tanto no CTB (Art. 135) quanto no Código Penal. O motorista responderá a um processo criminal que pode resultar em penas como detenção, multa e suspensão do direito de dirigir.
  • Na Esfera Cível: Esta é a esfera que trata da reparação dos danos que você sofreu. Independentemente do processo criminal, você tem o direito de entrar com uma ação de indenização contra o motorista. É aqui que você buscará o ressarcimento por todos os prejuízos causados.

Buscando a Reparação: Quais Indenizações Você Pode Pleitear?

A indenização na esfera cível visa restaurar a situação da vítima ao estado anterior ao acidente, na medida do possível. Ela se divide em diferentes categorias de danos, e é seu direito pleitear todas as que se aplicam ao seu caso.

Danos Materiais

Referem-se a todos os prejuízos financeiros diretos e comprováveis que você teve. Isso inclui:

  • Orçamentos e notas fiscais do conserto da motocicleta;
  • Recibos de despesas médicas, como consultas, exames, fisioterapia, cirurgias e medicamentos;
  • Gastos com transporte (táxi, aplicativos) enquanto você esteve sem a sua moto;
  • Danos a outros bens, como capacete, jaqueta, celular e outros objetos que foram danificados no acidente.

Lucros Cessantes

Se você utiliza a moto para trabalhar (como motoboys, entregadores ou representantes comerciais) ou simplesmente ficou impossibilitado de exercer sua profissão devido aos ferimentos, tem o direito de ser ressarcido pelos dias não trabalhados. Este valor é calculado com base na sua média de rendimentos e deve ser devidamente comprovado.

Danos Morais

Esta é uma das indenizações mais importantes em casos de fuga. O dano moral não repara um prejuízo financeiro, mas busca compensar todo o sofrimento, a dor física, o abalo psicológico, o trauma e a angústia causados não apenas pelo acidente, mas pelo ato covarde do abandono. A fuga do motorista agrava significativamente o dano moral, pois demonstra um total descaso com a vida e a integridade da vítima.

Danos Estéticos

Caso o acidente tenha resultado em cicatrizes permanentes, marcas, deformidades ou a perda de um membro, cabe uma indenização específica por dano estético. Ela é separada do dano moral e visa compensar a vítima pela alteração em sua aparência física.

E se o Motorista Não for Identificado? O Papel do Seguro DPVAT

Mesmo que todos os esforços sejam feitos, em alguns casos, infelizmente, não é possível identificar o motorista que fugiu. Nesse cenário, você não fica totalmente desamparado. É possível acionar o Seguro DPVAT (Danos Pessoais por Veículos Automotores de Vias Terrestres).

O DPVAT oferece cobertura para três tipos de danos:

  1. Reembolso de Despesas Médicas e Suplementares (DAMS): Reembolsa gastos médicos devidamente comprovados.
  2. Invalidez Permanente: Paga uma indenização proporcional ao grau da invalidez.
  3. Morte: Paga uma indenização aos herdeiros da vítima.

É importante ressaltar que o DPVAT não cobre danos materiais (como o conserto da moto). Além disso, seus valores são limitados. Por isso, a identificação do motorista culpado é sempre o melhor caminho para garantir uma reparação completa e justa.

Não Deixe seu Direito Fugir com o Responsável

Ser vítima de um acidente onde o culpado foge é uma experiência profundamente injusta e traumatizante. No entanto, é fundamental entender que a lei está do seu lado. A fuga do motorista, longe de livrá-lo de suas obrigações, na verdade agrava sua situação legal e reforça seu dever de indenizar.

O caminho para obter a justiça pode parecer complexo, envolvendo desde a coleta de provas e registro do B.O. até o ajuizamento de ações judiciais. Por isso, o suporte de um advogado especialista é indispensável. Ele saberá como conduzir a investigação para identificar o culpado, reunir a documentação necessária e lutar para que você receba todas as indenizações a que tem direito, incluindo os danos materiais, morais e estéticos.

Não desista. O ato de buscar a reparação não é apenas sobre o dinheiro; é sobre responsabilizar quem agiu de má-fé e garantir que a justiça seja feita.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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