Ninguém espera que um acidente aconteça, muito menos no ambiente de trabalho. Mas a realidade é que incidentes e problemas de saúde decorrentes da atividade profissional são mais comuns do que imaginamos. Seja uma queda, uma lesão por esforço repetitivo (LER) ou até mesmo o agravamento de uma doença por estresse, é crucial saber o que fazer. A dor e o abalo emocional de um acidente de trabalho ou de uma doença ocupacional podem ser grandes, e a incerteza sobre os direitos só piora a situação.
Como advogado, vejo muitas pessoas que, sem a devida orientação, acabam perdendo direitos importantes por desconhecimento. A legislação trabalhista brasileira é robusta na proteção do empregado, mas exige que ele saiba como agir para garantir que a lei seja cumprida. Ignorar o assunto pode custar caro, desde a perda de benefícios do INSS até a impossibilidade de conseguir uma indenização da empresa.
Neste artigo, vamos esclarecer, de forma clara e direta, os seus direitos em caso de acidente de trabalho ou doença ocupacional, a quem cabe a responsabilidade, e o passo a passo para garantir a proteção jurídica e a devida reparação.
A Diferença Fundamental: Acidente Típico vs. Doença Ocupacional
Primeiro, é importante entender a distinção entre os dois conceitos, pois a forma de agir é ligeiramente diferente.
- Acidente de Trabalho Típico: É o que ocorre de forma súbita, no exercício da atividade profissional, e que causa uma lesão corporal ou perturbação funcional que leve à perda ou redução, permanente ou temporária, da sua capacidade para o trabalho. Exemplos incluem uma queda de um andaime, um corte com uma ferramenta ou um atropelamento no percurso casa-trabalho (o chamado acidente de percurso).
- Doença Ocupacional: Diferente do acidente típico, ela se manifesta ao longo do tempo. É uma doença desencadeada ou agravada pelas condições de trabalho. As mais conhecidas são as LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), mas também incluem problemas de audição causados por ruído excessivo e, mais recentemente, transtornos mentais, como a síndrome de burnout, se comprovada a relação com o trabalho.
A boa notícia é que, para fins de direitos e benefícios, a doença ocupacional é equiparada ao acidente de trabalho, o que significa que os seus direitos são os mesmos.
A Responsabilidade da Empresa e o Primeiro Passo Essencial
De acordo com o Artigo 7º da Constituição Federal e a CLT, a empresa tem a responsabilidade de zelar pela segurança e saúde dos seus funcionários. Isso significa que, em caso de acidente de trabalho, a empresa deve:
- Emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT): Este é o passo mais importante. A CAT deve ser emitida pela empresa em até um dia útil após o acidente. Se a empresa se recusar a emitir, você ou seus familiares podem fazer o registro no site do INSS, mas o ideal é que a empresa cumpra com sua obrigação.
- Prestar socorro: A empresa deve fornecer todo o suporte necessário para o atendimento médico imediato.
A emissão da CAT é crucial, pois ela é a prova formal da ocorrência do acidente de trabalho, permitindo que você solicite os benefícios do INSS.
Os Benefícios e Direitos que Você Pode Requerer
Após o registro da CAT e a constatação da lesão, o trabalhador tem uma série de direitos garantidos por lei. A ausência de qualquer um deles pode ser motivo para uma ação judicial.
1. Estabilidade Provisória no Emprego
Se o seu afastamento do trabalho for superior a 15 dias, e você receber o auxílio-doença acidentário do INSS, você tem direito à estabilidade de 12 meses no emprego após o seu retorno. Isso significa que, durante esse período, a empresa não pode te demitir sem justa causa. Essa é uma proteção fundamental para que o trabalhador tenha tempo para se reabilitar sem a preocupação de perder o emprego.
2. Auxílio-Doença Acidentário (B-91)
Esse benefício do INSS é pago quando o trabalhador precisa se afastar por mais de 15 dias devido ao acidente. A grande vantagem do auxílio-doença acidentário (código B-91) em relação ao auxílio-doença comum (B-31) é que ele garante a estabilidade de 12 meses no emprego após a alta médica. É por isso que o registro da CAT é tão importante.
3. FGTS
Em casos de afastamento por auxílio-doença comum, o empregador não é obrigado a depositar o FGTS. No entanto, se o afastamento for por acidente de trabalho, a empresa é obrigada a continuar recolhendo o FGTS durante todo o período em que você estiver afastado, o que representa uma garantia financeira importante.
4. Indenização por Danos Morais, Materiais e Estéticos
Aqui entra a parte mais delicada e que, na maioria das vezes, exige a atuação de um advogado. Se for comprovada a culpa ou negligência da empresa no acidente ou na doença (por exemplo, falta de manutenção em equipamentos, ausência de EPIs ou condições de trabalho insalubres), o trabalhador pode pleitear na Justiça:
- Indenização por Danos Morais: Compensação pela dor e sofrimento físico e emocional.
- Indenização por Danos Materiais: Reembolso de despesas médicas, medicamentos e até mesmo um pensionamento em caso de perda ou redução da capacidade de trabalho.
- Indenização por Danos Estéticos: Em casos de lesões que causem deformidades ou marcas permanentes.
É importante ressaltar que a ação de indenização é um processo complexo que depende de provas robustas.
O Papel de um Advogado e a Importância de Agir Rápido
Apesar de a lei ser clara, a prática é cheia de obstáculos. Empresas podem se recusar a emitir a CAT, dificultar a obtenção de documentos ou tentar negociar um acordo desfavorável. Nesses momentos, a presença de um advogado especialista em direito do trabalho é fundamental.
Nós podemos:
- Garantir a emissão da CAT: Ajuizar uma ação para obrigar a empresa a emitir o documento, se necessário.
- Requerer os benefícios do INSS: Ajudar na solicitação do auxílio-doença e, se o benefício for negado, entrar com um recurso ou ação judicial.
- Pleitear indenizações: Reunir as provas necessárias para processar a empresa por danos morais, materiais e estéticos.
- Assegurar sua estabilidade: Lutar para que sua estabilidade de 12 meses seja respeitada, caso a empresa tente te demitir.
Se você ou alguém que você conhece sofreu um acidente de trabalho ou desenvolveu uma doença ocupacional, não hesite em procurar ajuda. O tempo é um fator crucial em processos jurídicos. Entender e lutar pelos seus direitos é a única forma de garantir a sua segurança financeira e a sua saúde.