Cirurgia Negada pelo Plano de Saúde: O Que Fazer?

Cirurgia Negada pelo Plano de Saúde: O Que Fazer?

Receber a notícia de que seu plano de saúde negou uma cirurgia essencial é, sem dúvida, um momento de grande angústia. Em meio à preocupação com a saúde e o bem-estar, surge uma enxurrada de dúvidas: o que fazer? É legal essa negativa? Quais são meus direitos? Este artigo foi cuidadosamente elaborado para responder a essas perguntas cruciais e te guiar pelos caminhos necessários para garantir o tratamento médico que você precisa. Afinal, a saúde não pode esperar e a lei está ao seu lado.

Muitos pacientes se sentem perdidos e desamparados diante de uma negativa de cirurgia, o que é completamente compreensível. No entanto, é fundamental entender que a maioria das negativas de cirurgia pelos planos de saúde pode ser contestada judicialmente. Sim, você leu certo. A legislação brasileira, especialmente o Código de Defesa do Consumidor e a Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98), protege o beneficiário e estabelece limites claros para a atuação das operadoras.

Por Que os Planos de Saúde Negam Cirurgias?

Antes de adentrarmos nas soluções, é importante compreender as razões mais comuns por trás das negativas. Ao entender a lógica, ou a falta dela, por trás da decisão do plano, você estará mais preparado para argumentar. As justificativas mais frequentes incluem:

  • Doença Preexistente: Alegação de que a doença que motiva a cirurgia é anterior à contratação do plano. Contudo, essa justificativa é complexa e exige prova contundente do plano.
  • Período de Carência: A cirurgia é solicitada antes do cumprimento dos prazos de carência estabelecidos em contrato para determinados procedimentos. É importante ressaltar que para urgências e emergências, o prazo máximo é de 24 horas.
  • Procedimento Não Previsto no Rol da ANS: O argumento de que o procedimento cirúrgico não consta no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Atenção: Embora o Rol da ANS seja uma referência, ele não é exaustivo e taxativo. Ou seja, a ausência de um procedimento no Rol não significa, por si só, que ele não deva ser coberto. Novas tecnologias e tratamentos surgem constantemente, e o plano de saúde deve cobrir aqueles que são essenciais para a recuperação do paciente.
  • Caráter Experimental do Tratamento: A operadora alega que a cirurgia ou a técnica utilizada é experimental. Essa justificativa precisa ser analisada com cautela, pois muitos tratamentos inovadores podem ser considerados experimentais no início, mas já possuírem eficácia comprovada.
  • Falta de Cobertura Contratual: O plano alega que o contrato não cobre aquele tipo específico de cirurgia. É crucial ler atentamente seu contrato para verificar os limites e exclusões.

Cirurgia Negada: Os Primeiros Passos Essenciais

Ao receber a negativa do plano de saúde, é fundamental agir com rapidez e estratégia. Não se desespere. Siga estes passos iniciais:

  1. Solicite a Negativa por Escrito: Este é o passo mais importante. O plano de saúde é obrigado a fornecer a negativa por escrito, detalhando o motivo da recusa e a cláusula contratual que a embasa. Peça este documento imediatamente. A ausência de uma negativa formal é, por si só, um indício de irregularidade.
  2. Reúna Toda a Documentação Médica: Tenha em mãos todos os laudos, exames, relatórios médicos que justifiquem a necessidade da cirurgia. O relatório médico, em particular, deve ser o mais detalhado possível, explicando a urgência, a gravidade do caso e a inviabilidade de outros tratamentos.
  3. Verifique Seu Contrato: Analise minuciosamente seu contrato com o plano de saúde. Procure por cláusulas sobre carência, exclusões e cobertura de procedimentos. Muitas vezes, a negativa é baseada em interpretações equivocadas do contrato.
  4. Entre em Contato com a Ouvidoria do Plano: Tentar uma solução administrativa pode, em alguns casos, resolver o problema. Registre sua reclamação na ouvidoria do plano e guarde o protocolo de atendimento.

Quando a Negativa Persiste: Recorrendo à Via Judicial

Se, após os primeiros passos, o plano de saúde mantiver a negativa, o caminho mais eficaz e rápido para garantir seu direito é a ação judicial. Nesses casos, o auxílio de um advogado especialista em direito da saúde é indispensável. Ele será seu maior aliado para reverter a situação.

O Que o Advogado Especialista Fará?

Um advogado com experiência em direito da saúde irá:

  • Analisar a Negativa e a Documentação: Avaliará a legalidade da negativa e a robustez da sua documentação médica.
  • Ingressar com Ação Judicial com Pedido de Tutela de Urgência (Liminar): Esta é a medida mais poderosa. A liminar é um pedido feito ao juiz para que ele determine, de forma emergencial, que o plano de saúde autorize a cirurgia. Dada a urgência de muitos casos cirúrgicos, os juízes costumam analisar esses pedidos rapidamente.
  • Argumentar em Favor do Paciente: Com base na legislação e na jurisprudência (decisões anteriores de outros juízes), o advogado apresentará os argumentos que invalidam a recusa do plano.
  • Buscar Indenização por Danos Morais: Em casos de negativa indevida que causem sofrimento e atraso no tratamento, é possível pleitear indenização por danos morais.

Argumentos Jurídicos Fortes Contra a Negativa

É importante que você conheça alguns dos argumentos jurídicos mais utilizados e bem-sucedidos para reverter a negativa:

  • Rol da ANS Meramente Exemplificativo: Como mencionado, o Rol da ANS serve como uma referência mínima, não um limite. Se o médico prescreve um tratamento, e este é fundamental para a saúde do paciente, o plano deve cobrir, mesmo que não esteja expressamente no Rol.
  • Princípio da Boa-fé Objetiva e Função Social do Contrato: O contrato com o plano de saúde não pode ser interpretado de forma a esvaziar sua finalidade principal, que é a garantia da assistência à saúde.
  • Interpretação Mais Favorável ao Consumidor: Em caso de dúvida na interpretação de cláusulas contratuais, a lei determina que a interpretação deve ser sempre a mais favorável ao consumidor.
  • Abusividade da Cláusula Contratual: Cláusulas que restrinjam direitos fundamentais ou que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada podem ser consideradas nulas pela Justiça.

Dicas Finais e Considerações Importantes

  • Não Pague a Cirurgia do Seu Bolso Antes de Tentar a Via Judicial: Se você puder aguardar a decisão judicial, faça-o. Caso contrário, e se o caso for de extrema urgência e você precisar pagar para realizar a cirurgia, guarde todos os comprovantes. Com a decisão judicial favorável, você poderá pleitear o reembolso integral dos valores gastos.
  • Busque Ajuda Especializada Rapidamente: O tempo é um fator crucial em casos de saúde. Quanto antes você buscar um advogado, mais rápido poderá ter uma solução para o seu problema.
  • Mantenha a Calma e a Paciência: O processo pode ser desgastante, mas seus direitos estão amparados pela lei. Com o acompanhamento jurídico adequado, as chances de sucesso são elevadas.

A negativa de cirurgia pelo plano de saúde não é o fim da linha. Pelo contrário, muitas vezes é o início de uma batalha judicial que você, como beneficiário, tem grandes chances de vencer. Conheça seus direitos, organize sua documentação e não hesite em buscar a justiça. Sua saúde é seu bem mais precioso.

Priscila Casimiro Ribeiro Garcia

Advogada altamente qualificada, Pós Graduada em Execuções Cíveis pela OAB/SP. Especialista em Direito de Família, atuante na área há mais de 15 anos.

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